Freguesia da Barreira

RESENHA HISTÓRICA

São vários os achados arqueológicos que indicam a ocupação humana deste território bem antes da formação da sua freguesia, como é o caso do Sítio das Ladeiras, junto à Ribeira da Ramila. Até ao Séc. XVIII foi pertença do concelho de Marialva, que, extinguido em 1852, passou a fazer parte do concelho de Vila Nova de Foz Côa ali se mantendo até 19 de dezembro de 1872, data em que passa a integrar definitivamente o Concelho da Mêda.

HERÁLDICA

Escudo de prata, dois cântaros de asa, de vermelho e um feixe de três espigas de centeio de verde, atado de vermelho, tudo bem ordenado. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco, com a legenda em maiúsculas a negro: «BARREIRA».

FESTAS E ROMARIAS

4º Domingo de Agosto – Nossa Senhora dos Milagres

Igreja Matriz de Invocação a Santa Catarina

Capela de Nossa Senhora dos Milagres

Capela de São Sebastião

Cruzeiro do Milho

Fonte de Mergulho do Lameirão

Forno Comunitário

Casa da Cerca

Moinhos de Água

Alminhas

Lagares Rupestres

Fornos de Olaria

Fornos Telheiros

Notas Históricas

Nas notas de D. Joaquim de Azevedo, Capelão da casa Real e Abade de Cedovim, no século XVIII a Barreira era um lugar do termo de Marialva, pertença do Marquês de Marialva e da comarca de Trancoso, tendo sido já de Pinhel. No meio do povo situa-se a Igreja Matriz, da invocação de Santa Catarina, cuja imagem, com o Santíssimo Sacramento, se encontra no altar-mór, havendo, nos outros altares, imagens com o Menino Deus, a Senhora do Rosário, com irmandade das Almas Santas, e Santo António. Dava-se ainda notícia da existência de uma capela dedicada a S. Sebastião, enquanto também se referia a existência de uma ponte de pedra e madeira sobre a ribeira de Marialva, que, correndo pelo lugar da Carrasqueira, fazia mover moínhos e permitia a rega de várias terras.

Na reforma administrativa a partir do “Vintismo”, 465 antigos concelhos passaram à situação de paróquias. A Barreira, ligada a Marialva, passou a pertencer ao concelho de Vila Nova de Foz Côa a partir da extinção do concelho de Marialva, em 1852. Ali se mantém durante cerca de 20 anos, uma vez que em 19 de dezembro de 1872, por Decreto do Ministério do reino, tanto a Barreira, como Vale de Ladrões (hoje Valflor), Paipenela, Carvalhal, Rabaçal, Coriscada e Marialva são anexadas ao concelho da Meda, por alegados motivos de conveniência das respetivas populações. Três anos depois, em 1875, em 12 de novembro, a Mêda tornava-se cabeça de comarca, com a categoria de 3ª classe, mantendo-se o julgado de Marialva, com as freguesias da Barreira, Carvalhal e Casteição, que pertenciam á comarca de Vila Nova de Foz Côa.

Nos censos de 1864 Barreira e Gateira figuram no concelho de Vila Nova de Foz Côa como freguesias distintas e pelo decreto-lei nº 27.424, de 31/12/1936, foi extinta a freguesia de Gateira, ficando os seus lugares incluídos na freguesia da Barreira, concelho de Meda.

O regime comunitário dos “baldios” na Barreira

Na obra “Terras da Mêda – Natureza e Cultura”, do Prof. Dr. Adriano Vasco Rodrigues, faz um especial destaque de um regime comunitário que, nesta freguesia, persistiu até meados dos anos 1980 quanto ao uso das terras baldias existentes no seu termo. Para além de referir que nesta freguesia existia uma forte tradição artesanal de olaria doméstica, com os seus cântaros, púcaros, talhas e alguidares de barro, que eram vendidos nos mercados de toda a região, encontrando-se praticamente extinta na viragem do Século, dava conta da persistência de usos comunitários quanto à utilização dos terrenos baldios da Barreira.

De acordo com o Autor, “os terrenos comunitários da Barreira situam-se numa fértil mesopotâmia, limitada pelo rio Massueime e pela Ribeira de Marialva. O rio Massueime é um afluente do Côa. Os baldios estendem-se actualmente por uma faixa de 10 kms por 3,5 kms. Outrora foi mais vasta, pois, ainda em 1935, tinha mais de 9 Kms², que perdeu, quando a Gateira deixou de ser anexa da Barreira. Até essa data, os da Gateira continuaram a tradição da arrematação das “sortes”, mas naquele ano em que o Governo planeara extinguir os baldios, a gente da Gateira decidiu dividir o terreno pelos fogos da povoação, acabando assim a tradição comunitária.”

(…) Mas a Barreira manteve até agora o sistema tradicional nos 35 Km² que lhe restaram. Esse terreno está dividido em dois lotes ou folhas, que são utilizados conforme o ano, par ou ímpar. Essas folhas conhecem-se por Carrasqueiro e por Cardal. Geralmente o baldio é designado por Carrasqueiro. As folhas servem alternadamente a agricultura e o pastoreio, o que significa que o gado ocupa a folha livre. As culturas praticadas são as cerealíferas (centeio e trigo) e também o feijão.”

“(…) A arrematação dos “lotes” faz-se anualmente no dia 25 de Novembro, dia de Santa Catarina, padroeira da Barreira; os nomes dos lotes, escritos em papéis, são metidos num púcaro novo de barro, que só serve para este efeito. A divisão é anual e de acordo com o número de fogos. Por isso diz o ditado “Se casas na Barreira tens sorte…” O usufruto das “sortes” é gratuito, contrariamente ao que acontece em outros locais, onde se paga uma percentagem pela ocupação. Aqui, as “sortes” normais não são oneradas com qualquer encargo. A folha da Carrasqueira está dividida em 54 sortes, que são arrematadas nos anos ímpares. Cada uma destas subdivide-se em dois ou três lotes, ou quinhões, que são distribuídos por dois fogos, ou cabeças de casal. Entre estes é que se faz a divisão dos quinhões, pois o número das “sortes” é fixo, tendo cada uma delas nome e identificação precisa. Os quinhões podem ser cultivados em comum pelos casais, ou separadamente, se optarem pela divisão.”

“(…) Nos anos pares, faz-se a arrematação das sortes do Cardal, em número de 29. Além destas sortes, há outras especiais, umas também gratuitas, outras arrematadas. São gratuitas as “meias sortes das viúvas”. Há aqui uma discriminação quanto aos viúvos, cujas sortes contam como se tratasse de cabeça de casal. Será sobrevivência do antigo patriarcado?…”

“(…) Há sortes especiais ligadas ao pastoreio, que são arrematadas pelos pastores. O leilão é pago em dinheiro, conjuntamente, por todos os pastores, que se quotizam entre si. Estas sortes são as do Seixo, do Cardal e do Poldrão. Há sortes especiais que são arrematadas e cujo rendimento constitui bens da Junta, pagáveis em alqueires de cereais. Não se arrematam sortes a quem não residir na Barreira, isto é, a quem não participar do estatuto de vizinho. Também não são admitidos nos pastos os gados estranhos à povoação. Dada a vastidão do campo, a natureza do clima, e o número de cabeças, os gados não transumam. Há duas dezenas de anos havia dezoito pastorias; atualmente há onze, de cerca de oitenta a cem cabeças, cada uma. As sortes que ficam abandonadas, principalmente por motivo de emigração, são aproveitadas para pasto.”

“(…) A emigração é um dos principais fatores de decadência do sistema. As sortes que vão á arrematação são sempre as mesmas. Caraterizam-se por serem de mais fácil amanho, o que as torna mais cobiçadas. São a sorte da Laginha, a da Presa e a do Lajão Gordo. As “meias sortes das viúvas” são onze, ficando-lhe próxima a “meia sorte da mulher”, que é arrematada pela Junta. (…)”

A utilização anual da sorte não dá o direito de ocupação definitiva. Por isso se faz ciclicamente o seu sorteio. Mas verifica-se aqui uma particularidade curiosa. Quem plantar árvores no terreno que lhe for sorteado, fica com o direito vitalício da colheita dos frutos e da transmissão hereditária. Há oliveiras e figueiras que pertenceram a três gerações da mesma família.”

Bibliografia

https://pt.wikipedia.org/wiki/Barreira_(M%C3%AAda)

https://www.heraldry-wiki.com/heraldrywiki/wiki/Barreira_(M%C3%AAda)

RODRIGUES, A. Vasco; Terras de Meda – Natureza, Cultura e Património; Edição Câmara Municipal de Meda; 2ª Edição; 2002.

SARAIVA, Jorge António de Lima; O Concelho de Meda, 1838-1999; Edição Câmara Municipal de Meda; 1999.