Freguesia do Poço do Canto

RESENHA HISTÓRICA

A povoação terá tido origem no antigo castro do Monte de Santa Columba, de onde se avista uma enorme região desde terras de além Douro até Espanha e mais para sul, até à Serra da Estrela. Pertenceu ao concelho de Ranhados e foi anexada definitivamente ao concelho da Mêda em 1872. A Freguesia é hoje um enorme produtor de azeite e vinhos do Douro.

HERÁLDICA

Escudo burelado ondado de onze peças de prata e azul, tendo brocante cacho de uvas de púrpura, folhado de ouro. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco, com a legenda a negro: «POÇO DO CANTO».

FESTAS E ROMARIAS

7ª Semana depois da Páscoa – Divino Espírito Santo

Igreja Matriz de Poço do Canto

Capela de Santa Bárbara em Sequeiros

Capela de Santo Apolinário em Vale do Porco

Capela de Nossa Senhora da Conceição em Cancelos de Baixo

Capela do Divino Espirito Santo em Cancelos do Meio e Cancelos de Cima

Casa do Cônsul

Casa de Dª Alda

Solar dos Cancelos ou Quinta da Areeira

Alminha

Cruzeiros

Cruzeiro dos Centenários

Monte de Santa Columba

Notas Históricas

A origem do topónimo parece ser o latino Puteus-i, poço, subterrâneo, masmorra ou cisterna, ou também o feminino Putea, poça, cova, e materializa-se documentalmente na alta Idade Média (nas Inquirições). Na explicação de António Carreira Coelho, in “A Guarda”, de 14-09-2001, à época e em tempo de crise significava o imperioso e quase exclusivo suprimento de água por nascente natural ou mesmo por captação para cisterna. Chantus-i, além de ter sido um frequente nome romano que indicaria a propriedade, podia provir de origem céltica (“kant”) aplicada ao arco de ferro de uma roda de madeira de carro de atrelagem, praticável por ferreiros.

Por sua vez, a aplicação do topónimo Columba (local mais provecto e provável berço da povoação) é um bom e raro indício de apoio de antiguidade; a conservação do “l” intervocálico, quando na Idade Média se passou pela forma de Coumba>Coomba>Comba, vem em abono de maior anterioridade e, talvez, nesta indecisão ou evolução, a dever considerar-se reflectida no período antecedente ao nosso idioma. Por outro lado fica provada a grande antiguidade de um culto local (porque o topónimo deve-se à existência, no cume deste monte, da ermida dedicada à Virgem Santa Comba e com ela o remoto povoamento destes territórios, sendo de crer que este monte tivesse sido remotamente castrejo, de boa defesa natural e que o culto aí instituído houvesse sucedido a uma devoção pagã e Cantus como cerimónia mágica e encantamento.

Outros nomes habitados da freguesia denotam, na aparência e na aplicabilidade, idêntica origem e antiguidade. Incidamos, por exemplo, em Cancelus e Sicarius, radicados na nossa língua. O termo “cancelo” aqui aplicado a três povoados são sintomáticos de um único e embrionário “Cancelo”. Cancellus configura campos definidos e vedados. “Cancelum” é mais uma das adaptações idiomáticas de transição que, com certeza, provém de uma tal demarcação foreira de terrenos. Ainda hoje a delimitação de um aprisco nocturno toma o nome de “cancelas”, tal como a vedação de uma propriedade (murada) se designa cancela ou cancelinha. A acepção de Cancelo, ante ou post-mediévica, era objectiva e restritiva – “extra cancellos non egredi” – não ultrapassar os limites.

No primeiro período da monarquia, Poço do Canto e as suas aldeias eram do julgado de Ranhados e não havia aí possessões ou honras de nobres. O território desta freguesia depois de 1377 (Carta de 12 de Julho de 1381) inscreve-se numa munificência do rei D. Fernando aos pais de Pero Lourenço de Távora (notável fidalgo do século XIV de quem procede a Casa dos Távoras, marqueses de Távora e condes de S. João da Pesqueira) e a seu irmão Rui Lourenço, que neles continuou e foi um dos mais acérrimos apoiantes de D. Fernando em todos os momentos, mesmo nos mais difíceis.

O orago do Poço do Canto é Nossa Senhora do Pranto ou, na invocação de mais ancestral devoção, Nossa Senhora das Dores. A Igreja Paroquial é dos finais do século XVIII, nela sobressaindo a artística talha dourada que reveste o arco que separa a nave da capela-mor. O lavabo da sacristia, mandado reconstruir pelo comendador de Ranhados, tem a data de 1794.

A antiga freguesia foi um curato anual de provimento do Comendador de S. Martinho da vila de Ranhados, a cuja municipalidade pertencia. Pouco depois autonomiza-se como abadia. No primeiro período da monarquia ainda não existia a paróquia do Poço do Canto, nem sequer no primeiro terço do Século XVI. Ao tempo, a paróquia de Ranhados atravessava a Teja para a margem direita; posteriormente, com o crescimento da população e pela grande distância a que estes povos estavam da matriz de Ranhados, com a Teja de permeio, foi criada a paróquia no lugar do Poço do Canto e a Ermida local passara a Igreja de Santa Maria; a nova paróquia, filial daquela, ficou, por isso, a ser provida pelo reitor de Ranhados.

Nesta freguesia há ainda as capelas da invocação de Santa Bárbara, em Sequeiros, a capela de Santo Apolinário em Vale do Porco; a de Nossa Senhora da Conceição, em Cancelos de Baixo, e a do Divino Espírito Santo em Cancelos de Cima e do Meio. Contavam-se ainda, como capelas particulares, uma dedicada a Jesus ,Maria e José, nos Cancelos de Baixo e outra dedicada a Santo António.

No dia de Pentecostes cumpre-se na paróquia do Poço do Canto um costume que deve remontar ao século XIV, período em que foi incrementada em Portugal a devoção ao Espírito Santo: do alto da torre da sua Igreja Matriz são lançados pequenos pães bentos que as pessoas recolhem e levam para casa, como lembrança das línguas de fogo que desceram no Cenáculo e símbolo da Caridade que deve ser praticada por todos os cristãos.

Em 1758 o cura desta freguesia refere numa sua memória que esta localidade “está situada em um altinho”, dominante da Ribeira Teja. Em 1708 a freguesia registava no seu aro 128 fogos e 496 habitantes; em 1862 tinha 221 fogos e 871 habitantes; em 1900, tinha 307 fogos e 1192 habitantes; teve o seu ponto mais alto em 1940, com 404 fogos e 1355 habitantes, chegando a 1960 com 404 fogos e 1348 habitantes e perdendo nos 20 anos seguintes cerca de 40% da sua população. Em 1981 tinha 349 fogos e 828 habitantes, numero este que baixou ainda para 723 no censo populacional de 1991.

No adro do Poço do Canto podem-se apreciar algumas construções de interesse, como a Casa do Cônsul e a Casa de D. Alda. Nos Cancelos de Baixo somos surpreendidos por um belo solar barroco do Século XVIII onde se alojou Alexandre Herculano, em 1852, a convite do então proprietário Caetano de Seixas (hoje do Dr. José Lopes Cavalheiro).

Nesta freguesia produz-se um excelente vinho de consumo (tipo palhete, muito aromático, gasoso e bem apaladado, muito procurado e apreciado), assim como azeite de excelente qualidade, que constituem a riqueza e fonte de receita dos seus habitantes. Aqui existiu até há poucos anos uma pequena industria ligada à moagem de cereais. Os antigos castanheiros, que em tempos remotos cobriam as suas terras de soutos, foram sendo substituídos pelos vinhedos que hoje são o seu orgulho e o seu ganha-pão, daqui saindo anualmente muitas pipas de vinho da mais alta qualidade, designadamente para a cidade do Porto.

Bibliografia:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Po%C3%A7o_do_Canto

https://www.heraldry-wiki.com/heraldrywiki/index.php?title=Po%C3%A7o_do_Canto

COELHO, António Carreira – “As nossas terras” – Jornal “A Guarda” de 14-09-2001, pag. 14;

RODRIGUES, A. Vasco; Terras de Meda – Natureza, Cultura e Património; Edição Câmara Municipal de Meda; 2ª Edição; 2002.

SARAIVA, Jorge António de Lima; O Concelho de Meda, 1838-1999; Edição Câmara Municipal de Meda; 1999.