Freguesia de Valeflor, Carvalhal e Paipenela

RESENHA HISTÓRICA

Valeflor, Carvalhal e Paipenela foi criada aquando da reorganização administrativa das freguesias em 2013, resultando da agregação das antigas freguesias de ValeflorCarvalhal e Paipenela.

Valeflor integra o concelho da Meda desde 4 de dezembro de 1872, depois de nos séculos XV a XVI ter sido da municipalidade do Aveloso, sendo certo que em 1840 pertencia ao concelho de Marialva, extinto em 24 de outubro de 1855 em favor do de Vila Nova de Foz Côa. Chamava-se “Vale de Ladrões” até à publicação do Decreto nº 31106, de 16 de janeiro de 1941.

A antiga freguesia do Carvalhal integra o concelho da Mêda desde 19 de dezembro de 1872, depois de ter feito parte do concelho de Marialva até 1852 e depois do concelho de Vila Nova de Foz Côa.

Paipenela integra o concelho da Mêda desde 1872, por Decreto publicado no Diário do Governo nº 288, de 19 de dezembro daquele ano, e encontra-se situada a 8 quilómetros da vila da Mêda, na margem direita da ribeira de Valeflor e ribeira do Aldeão, dispondo-se numa placa giratória dos antigos caminhos vicinais para Valeflor, Marialva, Aveloso, Carvalhal, Casteição, Prova e Torre do Terrenho, esta do concelho de Trancoso.

HERÁLDICA

Escudo de ouro, rosa heráldica de vermelho, botoada de ouro e apontada de verde, dentro de uma capela de ramos de carvalho verde, landados de vermelho; movente da ponta penhasco de negro realçado de prata. Coroa mural de três torres. Listel de prata com legenda em letras a negro maiúsculas “UNIÃO DAS FREGUESIAS DE VALEFLOR, CARVALHAL E PAIPENELA”.

FESTAS E ROMARIAS

Valeflor: 28 de Junho – Santa Bárbara

Carvalhal: 26 e 27 de Abril – Nossa Senhora dos Prazeres

Paipenela: 4º Domingo de Agosto – São Silvestre

Igreja Matriz de Invocação da São Pedro – Valeflor

Capela de Santo António – Valeflor

Capela de Santa Bárbara – Valeflor

Capela de Nossa Senhora da Saúde – Valeflor

Capela do Divino Espirito Santo – Valeflor

Ruínas do Convento de Villares – Valeflor

Igreja Matriz de Invocação a  – Carvalhal

Capela de Nossa Senhora dos Prazeres – Carvalhal

Miradouro de Santa Bárbara – Paipenela

Capela de Santa Bárbara – Paipenela

Alminhas e Cruzeiros

Lagares Escavados na Rocha

Fornos de Secar Figos

Notas Históricas

Há notícias, num documento de 1222, da existência desta freguesia que tinha por senhorio a Casa de Marialva. Também é referida no foral manuelino do Aveloso, de 21 de abril de 1514, cuja municipalidade integrava então. As Inquirições de D. Dinis, de 1290, citam nesta freguesia a Quinta da Pousada. Em 1222 foi esta localidade doada à Sé Lamecense por Gomes Eanes, clérigo desta freguesia, segundo o documento do arquivo capitular Lamecense dessa data.

O termo “pousada” corresponde a um apelativo de uso corrente no século XI, com o sentido de estalagem, pelo facto do local ficar ao lado do mais frequentado caminho velho entre Valeflor e Marialva. Esta e outras “quintas” são correspondentes, talvez na globalidade, a propriedades ou quintãs medievais (séculos XII – XIV), particularmente a de Pousada que, nos fins do século XIII, constituía a única honra que havia no Julgado de Marialva.

Desde a época da romanização, há-de considerar-se a quase contiguidade da “Civitas Aravorum” (cidade romana) documentada com inúmeros vestígios e epigrafias locais. Todo o encadeamento do vale que une as localidades, apesar da variabilidade nominativa ao longo do curso de água (de Ladrões, da Lameirinha, de Marialva) é o mesmo. A ligação viária pela Quinta da Pombeira, Quinta do Convento ou Quinta da Abadia, e os cabeços intermédios constituiriam, por certo, a rede de defensão castreja remota de povos antecessores dessa “Civitas” que permitem pensar-se na existência de população pré-romana.

Os dois altos e extensos cumes conhecidos por Mós encerram cariz assás arqueológico, quer na aceção de “Mós” de farinação, pré ou proto-histórica, quer na expressão megalítica (moles). O cume da Amedelinha é outro topónimo antiquíssimo que se julga relacionado com a topografia do terreno. Amedella é já de si considerado um diminutivo e Amedelinha uma duplicação idiomática (tal como Munda>Mondecus>Mondeguinho). Se, menos provável (porquanto a nominação era transposta dos pontos altos) for relativo a vegetação, ele poderia relacionar-se com um pequeno amial nas nascentes do ribeiro do Vale de Ladrões – circunstância e base não muito críveis. Mas como elevação (cume de Mós – a denominada Amedelinha, ainda no século XIX) e seus Moínhos de Vento (molendinum e molinum saxum), dão-lhe algum toque de justeza (almolendinha>Molendinha>moendinha) ou terá sido um locus afastado, aqui reforçado pela etimologia de amendo>amendela, exílio, afastamento, ou ainda um povoado derivado de outro topónimo antigo, no diminutivo, que seria o caso do antigo Ameda, hoje Meda, a atual Vila que se configura num peniplano, v. g. Al Maida (a mesa).

O monte da Amedelinha, nos alvores da Nacionalidade, deve considerar-se aplicado a um locus habitado e afastado, e poderá provir, pois, da primeva Ameda (>Amedella, como povoação mais incipiente, do mesmo nome).

Esta antiquíssima freguesia de S. Pedro de Vale de Ladrões (hoje, Valeflor), quando no termo de Marialva, foi vigararia do provimento do bispado de Lamego e ascendera posteriormente a reitoria. Comprovando a antiguidade paroquial está a capela-mór, românica, da sua Igreja Matriz, de elevado valor artístico, ostentando ainda outros altares, laterais, de não menor interesse. Na freguesia há ainda as capelas de Santo António, na praça central da localidade; a do Divino Espírito Santo, junto ao cemitério; a de Nossa Senhora da Saúde, com romaria na segunda-feira de Páscoa, uma jóia de estilo rocócó construída em 1818 e a de Santa Bárbara, nas dominâncias para norte, entre as antigas “canadinhas” para Meda e Outeiro de Gatos. A paróquia de Vale Flor considera-se que foi uma das primeiras paróquias iniciais desta estremadura, tangencial da maura adaga a sul do Douro, e compreendia então todo o vasto território que é hoje o de três freguesias (Valeflor, Carvalhal e Paipenela). No interior da Igreja Matriz podemos apreciar paramentos e algumas alfaias religiosas provindas do antigo e extinto Convento Franciscano de Villares, entre Valflor e Marialva.

Quanto ao florescimento do lugar o índice do desenvolvimento populacional acusado pelo Cadastro de 1527 assinala como notável a densidade demográfica, relativamente aos termos de Marialva, e teria então 171 fogos, número que ultrapassa Marialva, intra e extra-muros, que não perfazia então os 150 fogos. Este lugar, na Idade Média, atingira um elevado grau de desenvolvimento, mas, no decurso dos séculos XVI e XVII, a sua população decaíra a tal ponto que nos princípios do século XVIII, se restringia já a pouco mais de metade da registada dois séculos antes. Hoje, com outros sinais dos tempos, a localidade não tem muito mais do que a que lhe correspondia há quatro séculos.

Aqui se realizava uma feira anual em 13 de junho, dia de Santo António, e um mercado mensal na primeira quinta-feira de cada mês. Têm sido explorados minérios no solo do seu território. A região é essencialmente vinícola e oleícola, dispondo de algumas destilarias.

Um dos filhos ilustres desta localidade foi o Almirante Armando de Roboredo, da Família dos Roboredos, com casa na freguesia, valflorense ilustre que, no terceiro quartel do século XX, exerceu as altas funções de Chefe do Estado Maior da Armada Portuguesa.

A localidade do Carvalhal deve o seu nome à existência das antigas e frondosas matas de carvalhos, que emolduravam a povoação. Pensa-se, com muito boa razão, que dos campos do Carvalhal saiu muita madeira para a construção das naus da gesta dos Descobrimentos Portugueses. Na opinião do Prof. Dr. Adriano Vasco Rodrigues, a matéria-prima para essa grande tarefa nacional não proveio dos pinhais de Leiria, já que a madeira de pinho não serve para o mar. E depois também porque a estopa e o linho, igualmente necessários para a construção dos barcos, eram produzidos nas localidades próximas.

Segundo o censo de 1527 o Carvalhal tinha então apenas 8 moradores. Porém, nos finais do século XVII tinha já 160 fogos e 640 almas. Nos finais do século XVIII tinha 70 fogos e 162 almas. verdade é que, num intervalo de 250 anos, a população desta localidade multiplicou-se por 80, o que quer dizer que as riquezas locais se somaram então ao desenvolvimento económico geral verificado nesse período. Mas a curva demográfica não continuou a crescer desse modo, e tanto assim que, em 20 anos apenas, de 1960 a 1981, o Carvalhal, sacudido pela tremenda emigração que afetou o País, perdia precisamente 50% da sua população.

Voltando à história, diga-se que foi precisamente no século XVII que se iniciou a construção da sua elegante Igreja Matriz, cuja capela-mór encanta quem a visita, pela agradável exuberância do seu retábulo, de estilo nacional, em talha dourada, que emprega seis colunas torsas adornadas com figuras simbólicas – meninos, cachos de uvas e parras e pássaros (representando a fénix – símbolo de imortalidade), tendo a encimá-las arcos concêntricos.

Pode ver-se neste templo um belíssimo teto adornado em caixotões, com 35 painéis onde figura diversa iconografia do santoral, à semelhança do que pode ser apreciado na Igreja Matriz de S. Bento da Meda. Diga-se, entretanto, que esta belíssima coleção de painéis proveio do extinto e hoje quase ignorado Convento de Villares ou de Nossa Senhora dos Remédios, de Frades Terceiros Franciscanos, que se situa a meio caminho entre Marialva, Valeflor e Carvalhal. Segundo o que rezam as “crónicas”, quando as ordens religiosas foram extintas e os conventos ficaram nas mãos do Estado, em 1834, as populações de Marialva e Valeflor foram ao Convento de Villares e dali retiraram o que lhes veio à mão. Os habitantes do Carvalhal, ao ver o saque do Convento dos Franciscanos, resolveram salvar os quadros e adaptá-los à sua igreja matriz. Segundo o Dr. Jorge de Lima Saraiva, “além dos painéis, trouxeram um Cristo do século XIII, vestido de saial e coroado de majestade com os pés cravados separadamente”.

É igualmente dos finais do século XVII a capela de Nossa Senhora dos Prazeres, que se encontra datada de 1670, ano em que também no Carvalhal se construiu um coreto, sinal evidente que a sua população era então considerável e as suas festas já exigiam uma infra-estrutura como esta.

Nos finais do século XVIII, D. Joaquim de Azevedo, capelão da Casa Real e Abade de Cedovim, dava notícias do Carvalhal, situado num vale à vista de Marialva e Paipenela, e nelas dizia que a localidade possuía uma igreja dedicada a Nossa Senhora dos Prazeres, dentro do povo, tendo o Santíssimo Sacramento no alta-mór; os altares colaterais dedicavam-se à Senhora do Rosário e ao Senhor Crucificado, sendo curato com apresentação pelo reitor de “Vale de Ladrões” (actualmente Valeflor), e tendo juiz da vintena, sujeito ao juiz de Marialva, enquanto dois regatos de inverno faziam moer alguns moínhos e um lagar de azeite.

A população do Carvalhal tornou-se conhecida na região pelas suas festas e tradições, das quais se destacavam as “contradanças” que levava a efeito na altura do Carnaval.

Sobre Paipenela, o primeiro elemento toponímico, conforme a explicação de António Correia Coelho in “A Guarda” de 5-10-2001, sobre “as nossas terras”, é um característico genitivo do nome próprio “Paius” (O apelativo comum “Pai” (na actual acepção de progenitor) não se ajusta porquanto a denominação teve a forma iniludível de “Paio Penela”, a denotar que possa ter provindo do nominativo por apócope do “o” final, suprimindo essa espécie de hiato, ou pela via do genitivo a significar “Penela de D. Paio” < Paii Penela. O apelido Pais é pois um patronímico derivado de Payo, podendo significar nos dias de hoje que pode haver muitas famílias, sem qualquer laço de parentesco entre si, que o podem agregar e era um apelido muito frequente nos séculos XI e XII.

  1. Silvestre é o orago desta freguesia que, outrora, eclesiasticamente, foi curato no termo da Vila de Marialva, anexo e do provimento da vigararia de S. Pedro de Vale de Ladrões, uma das paróquias iniciais de uma zona que compreendia o vasto território que é hoje o das três freguesias autónomas – Valeflor, Carvalhal e Paipenela, vindo a alcançar, por mérito próprio, a ascenção a freguesia independente, instituída nos alvores do século XVI. Terá sido na transição do século XIII para o XIV que a então Vale de Ladrões adquiriu esta sua primeira filial, pois poderá corresponder à sua criação como povoação de mais significante contexto. A atribuição do orago de S. Silvestre de Paipenela parece resultar do antecedente esforço da cristianização da Estremadura, no século XII, ainda oscilante até ao Côa, levado a preceito pela Sé bracarense, à qual se deve a difusão do culto de S. Silvestre.

Em 1839 aparecia Paipenela no município de Trancoso, em 1852 na comarca da Mêda, depois passara ao concelho e comarca de Marialva; extintos estes em 24 de outubro de 1855, Paipenela veio, consequentemente, a ser anexada ao concelho e comarca de Vila Nova de Foz Côa, onde ainda se encontrava em 1862, passando, por último e de novo para o concelho da Meda em 1872.

Paipenela teve o seu período áureo, no que respeita à densidade populacional, durante os séculos XVIII e XIX, tendo passado de 70 fogos e 266 habitantes em 1708, a 99 fogos e 375 habitantes; todavia, mantendo-se quase inalterado o número de fogos, vem decrescendo desde então o número dos seus habitantes, pois em 1981 possuía no seu termo 85 fogos e apenas 184 habitantes, tendo este último número passado para 119 conforme os censos de 1991.

Na localidade existe um magnífico miradouro, com uma capela dedicada a Santa Bárbara, do século XVII, que bem poderá ter sido uma defesa castreja. Uma referência à existência desta capela podemos encontrá-la em D. Joaquim de Azevedo, fidalgo capelão da Casa Real e abade de Cedovim, em notícia por si subscrita nos finais do século XVIII. Deste miradouro, para além de se desfrutar uma deslumbrante vista sobre Marialva e Carvalhal, tem-se igualmente um belo panorama sobre as terras mais longínquas de Pinhel.

Bibliografia

https://pt.wikipedia.org/wiki/Vale_Flor,_Carvalhal_e_Pai_Penela

https://dre.pt/application/conteudo/66016512

RODRIGUES, A. Vasco; Terras de Meda – Natureza, Cultura e Património; Edição Câmara Municipal de Meda; 2ª Edição; 2002.

SARAIVA, Jorge António de Lima; O Concelho de Meda, 1838-1999; Edição Câmara Municipal de Meda; 1999.